quinta-feira, 5 de maio de 2011

À Deriva



Numa de não querer nada me perdi em não ser.
Perco-me e me acho, me atordôo sem saber.
Já não sou nem mesmo os restos do que fui.
Não consegui o que pretendia e até esqueci os motivos que me fizeram querer.
Quis muitas vezes recomeçar, refazer o caminho.
Um que não desse voltas e me levasse ao acaso.
Quem sabe uma nova chegada.
Quis sobretudo um novo motivo que justificasse a ida, a continuidade.
Sem nada nas mãos, sem rosas nem mágoas, apenas as marcas dos espinhos e o cheiro das pétalas despedaçadas.
E extasiado pelo cheiro, os espinhos se exalam.
Mesmo a marca e a dor dos espinhos trazem a lembrança da mão incauta que buscou a rosa.
Aquela mesma maliciosa que se ocultou ao cravo que a fez a eterna.
Murmúrios, sentidos desfalecidos, lembranças de uma vida extasiada.
A busca pelo acaso se desenha nas conquistas que não busquei.
Se a busquei ao acaso, busquei sem saber, e se hoje a encontro veio a mim por querer.
O pensamento se isola sem se comprometer, já que foi do acaso, agora assusta a apresentação e seria melhor continuar e nem buscar definição.
Seria em vão definir, enclausurar e oprimir.
Seria desvalorizar o acaso e é a esse que pretendo seguir.
Seguir como um devoto, devotando a ele todo o tempo que vier.
Pois só assim me atribuirei poderes, o acaso não existe e mesmo assim me ensinou a querer.



Por: Fátima Oliveira 
        &
        Jorge Muniz

domingo, 17 de abril de 2011

Julgamentos medíocres!


Julgamentos medíocres aos que por ventura acreditam conhecê-lo

Obra prima são teus silêncios, neles também se atrevem “as bobagens”.

Redundantes são as profecias que o faz sábio... Sombreiam...

Grandioso nas perdas, porque és mestre em saber ganhar até sem ganho.

Espirituoso e santos são teus renegues eles o faz divino, santidade.

Mestre em ser gente, pessoa racional, sem anjo da guarda, nem protetor

Usuário de encantos que faz valer a pena a companhia e a amizade

Nada além do que devem e podem ser os santos, por que não

Importa a vida, “tendo ou não o valor que a damos ela continuará

Zombando até o ultimo dia...  





   

















fátima oliveira

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Divagando...

A prática diária de santidade cala a voz teórica de um silêncio que necessita de algo a mais que ser divino, de quem não consegue ser perfeito sem pecar, de quem não ver graça em não se manter correndo atrás, pedindo, carecendo de motivos para não se considerar acabado, de quem compreendeu que a vida acontece é na renovação dos arrependimentos e não na frustração, na impotência, e que para amar é necessário de motivos, que arrepender-se é oposto de culpar-se, e que essa acontece é da prisão no medo por não tentar. Porque são nos desejos vividos que se pode atribuir que desejos e prazeres são similares e paradoxais, pois é desejando que se conhece o prazer da vida e que o prazer é desejado também pela falta de desejos;  que momentos são virtuosos ou depravados para aqueles que ainda não os considera presentes que se alimenta de futuro ou sobrevive de passado, porque momentos são apenas a vida que acontece em um segundo e no outro é acabado ou vivido em tempo errado. Mas que ser humano é necessário para que a santidade signifique com a importância que lhe é merecível.


Por: Fátima Oliveira

domingo, 6 de março de 2011

Libertas Quae Sera Tamen




Qual sol, pasmo observa e avista enevoada.
Uma terra que já ocultou fervores.
Agora num leito de morte, estonteada.
É Granja sitiada e sem valores.
Teu rio já não margeia, exige a entrada.
Em todo canto, cobre a terra de odores.
Teus filhos ingratos te venderam por nada.
Mãe prostituída a acalentar tantos amores.

Teu sorriso amarelou o lábio enrijecido.
Devolveram-te só dor e amargura.
Em suas sedes, teu seio não sacia.
Pilham-te em plena flor do dia.
Tu que já foste um ajo de candura.
Agora demente, te conspiram matricídio.

Tua prole tem joelhos fracos e dementes.
Anos de escravidão sempre reverentes.
Um dia ainda te curas da moléstia que te assola.
Grande já foi e quem sabe ainda poderia.
Que não tarde ter fim toda tua agonia.
Noutrora exuberante, hoje velha e decadente.
Nisso tudo o que me dar forças e consola.
É sonhar verte um dia, linda moça e sorridente.


Fátima Oliveira
e
Jorge Muniz!


sábado, 26 de fevereiro de 2011

Réquiem para um Amor.



Repouso doce e terno, por ti todo afeto.
Lembranças de um amor que já não vive.
Como uma melancolia, um sonho que retive.
Num início voraz, depois tão discreto.

Estarão sempre vivos, delírios, paixão.
Dizias-me que nunca amou, e isso já lhe dei.
E sem medo, docemente também te amei.
Fez me ser dono do teu coração.

Vejo-te como um ontem, sonho enclausurado.
E na lembrança, viva quando te fiz sonhar.
Desejei-te, e com meus beijos te fiz calar.

Meu coração, por ti já foi habitado.
Foi só teu, mas devo pensar em mim.
Não se entristeça! Te amei, mas teve fim.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Visceral




De um choro contido, me vejo em prantos embebido.
Não obstante, estarrecido em meio à dor que me corrói.
De um desejo abstrato, dor senil que me destrói.
Como que levado, subjugado e desfalecido.

De todas as dores nauseantes que já tive.
Como podes ser alheia a uma dor tão pungente.
Dilacera meus sentidos, atordoa a mente.
Moléstia que tonteia um cativo que nem vive.

Joguei meu coração de vidro a teus pés estilhaçado.
Os meus olhos já não guiam, não confio, são ingratos.
Habitando meus sonhos, e permanecendo entre parênteses.

Apoderou-se dos meus sentidos, sou um louco amordaçado.
Toda doçura do teu ser, deixou o meu em trapos.
E me posto a ti, como um vencido, de tu só desinteresses.

Lancinante


Tantas vezes eu fui tantas outras deixaram de ser.

Quantas outras ainda poderiam eu tentar?

Já não sei se posso, o coração clama por querer, o contido não ser.

Seria um tolo feliz, acho eu, mesmo sem nunca saber.

Seria tolo se não o fosse, seria covardia não querer.

Quantas vezes quis ser tolo, fui covarde e não pude atrever.

Por ti seria quantas vezes precisasse.

Sem nenhum medo, sem conter.

Por ti seria o quanto minha loucura alcançasse.

De uma loucura consciente, ou um sonho permanente.

De repente, me vi assim, realidade e ilusão.

Pousaria meus sonhos em tuas mãos.

Sossegaria meu coração.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Sonhos e ilusões


No mundo do absurdo tudo é perigoso sentir. 
O perigo sempre à espreita, carrasco, vigilante.
Um mundo de contrários, onde tudo que sentir terá de ser dominado ou domado.
Mesmo em uma terra de absurdos, sonhar sempre faz parte da realidade.
Afinal, real mesmo é aquilo que precisamos, e já descobri que sem sentimentos não há vida.
Ela é o que sinto, só ainda não descobri se sentiria sem ti, pois, foi depois que perdi os sentidos.
O absurdo e o contraditório me dominam e a realidade me comanda, e assim vivem os idiotas que se perdem nos sonhos e realizam as doces ilusões...
No doce  mundo dos sonhos toda realidade é perecível, 
cada anseio de momento parece uma eternidade, intocável é o sonho, modesto dentro de uma realidade possível. 
Cada medo é um assombro, 
medos contidos pelo simples desejo de preservar, 
preservação de uma doce ilusão, ilusões podem padecer, contrastada com a realidade.
Foi no percalço da minha esterilidade de sentidos que encontrei sabedoria e razões que me fizeram crer quão ilusionista era minha realidade, assim, me perdi na busca por separá-los... Já nem sei se existo ou se é sonho.


 Fátima Oliveira
 &
Jorge Muniz



 

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Pétalas ao vento




Os poemas deveriam saber falar, no entanto escondem, abafam, disfarçam até os desabafos se fazem em forma de epopéias, em máscaras. 
Textos não dizem nem desdizem, sombreiam, insinuam, entrelinham verdades, trapaceio o que leio a meu favor, digo o que entendi, mas não sei sobre o que diz a alma transparente da folha ainda em branco, rabiscos são códigos e todos embora difíceis são decifráveis, porém, uma folha e um lápis que se olham não se conhecem até que venham os arranhões, e ao se conhecerem não divulgam seus segredos, compactuam. 
Nem mesmos os erros posso corrigir, seria outra trapaça.
De: Fátima Oliveira

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Castelos de Areia


Construções efêmeras exigem um inocente construtor ou um débil brincando de existir.
Nem mesmo a mais voraz onda do mar levaria meu castelo – ledo engano.
Aplacar essa grande sede, a sede do por vir.
Ou um grande medo, medo de não poder resistir.
Testemunhando sua existência de uma janela estreita.
Vida, sonho e ilusão coexistindo num mesmo ser.
Como um grande rei, soberano de seu mundo.
Pobre rei mendigo, só desejaria viver sem abandono.
Sua realidade é pálida, como se representasse um sentido desfeito.
Mero devaneio...