Numa de não querer nada me perdi em não ser.
Perco-me e me acho, me atordôo sem saber.
Já não sou nem mesmo os restos do que fui.
Não consegui o que pretendia e até esqueci os motivos que me fizeram querer.
Quis muitas vezes recomeçar, refazer o caminho.
Um que não desse voltas e me levasse ao acaso.
Quem sabe uma nova chegada.
Quis sobretudo um novo motivo que justificasse a ida, a continuidade.
Sem nada nas mãos, sem rosas nem mágoas, apenas as marcas dos espinhos e o cheiro das pétalas despedaçadas.
E extasiado pelo cheiro, os espinhos se exalam.
Mesmo a marca e a dor dos espinhos trazem a lembrança da mão incauta que buscou a rosa.
Aquela mesma maliciosa que se ocultou ao cravo que a fez a eterna.
Murmúrios, sentidos desfalecidos, lembranças de uma vida extasiada.
A busca pelo acaso se desenha nas conquistas que não busquei.
Se a busquei ao acaso, busquei sem saber, e se hoje a encontro veio a mim por querer.
O pensamento se isola sem se comprometer, já que foi do acaso, agora assusta a apresentação e seria melhor continuar e nem buscar definição.
Seria em vão definir, enclausurar e oprimir.
Seria desvalorizar o acaso e é a esse que pretendo seguir.
Seguir como um devoto, devotando a ele todo o tempo que vier.
Pois só assim me atribuirei poderes, o acaso não existe e mesmo assim me ensinou a querer.
Por: Fátima Oliveira
&
Jorge Muniz